A dificuldade de se harmonizar dois textos bíblicos
aparentemente conflitantes faz com que existam diferentes
correntes de pensamento sobre a natureza de Cristo após a Sua
encarnação. O primeiro texto que trazemos a lume está no
evangelho de João:
“Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para
a reassumir.
Ninguém a tira de mim;
pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade
para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi
de meu Pai.” João 10:17, 18
Neste texto, Cristo afirma que Ele tem autoridade para entregar
Sua vida e também para voltar a tomá-la. Dá-nos portanto a
impressão de que foi Cristo que se “auto-ressuscitou” após a
Sua morte. Agora leia o segundo texto:
“A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós
somos testemunhas.” Atos 2:32
O
texto acima afirma claramente que foi o Pai quem ressuscitou a
Cristo. Assim, temos dois textos cujo entendimento é
aparentemente conflitante. Como resolvemos esta questão? Não
podemos resolve-la a menos que a Bíblia a resolva para nós, e
para nossa alegria é exatamente isto que ela faz. Leiamos o texto
de Atos 13:
“Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a
nossos pais,
como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus
filhos, ressuscitando a Jesus, como também está
escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te
gerei.
E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos
para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E
cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a
Davi.” Atos 13:32-34
O texto acima afirma que, quando Deus o Pai ressuscitou a Cristo
dentre os mortos, disse: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te
gerei”. Sabemos que, no princípio, Cristo foi gerado pelo
Pai. Vimos que isto era como se o Pai houvesse gerado a Seu Filho
a partir de uma parte de Si mesmo. Como o Pai, por ser Deus,
possui a vida em Si mesmo, ao retirar de Si uma parte, esta também
possui vida em si mesma. Como gerou a Cristo a partir de uma parte
de Si mesmo, Seu Filho passou a ter vida em Si mesmo. É por este
motivo que a Bíblia nos afirma:
“Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também
concedeu ao Filho ter vida em si mesmo.” João 5:26
Vimos, pelo estudo das seções anteriores, que, ao morrer na
cruz, Jesus sofreu a segunda morte, que significa também a
completa ausência de existência. Vimos também que, a divindade
de Cristo, a “água do copo”, estava no Pai desde o momento em
que Cristo veio como um homem na Terra. Ao gerar a Cristo pela
primeira vez, Deus o Pai lhe concedeu a divindade, a “água do
copo”. Quando veio a Terra, Cristo devolveu esta “água”, a
Sua divindade, para o Pai, pois esvaziou-se de Si mesmo.
Utilizando ainda de nosso exemplo para facilitar a compreensão,
temos que, uma vez que a divindade de Cristo, a “água do
copo”, estava no Pai, e o corpo inanimado e morto de Cristo
estava na Terra, para gerar a Cristo novamente bastaria ao Pai
colocar a “água do copo”, aquela mesma que havia recebido de
Cristo quando Ele veio para a Terra, naquele corpo humano
inanimado que jazia na tumba de José de Arimatéia. Assim, o Pai
estaria repetindo o mesmo processo que realizou uma vez, quando
gerou a Cristo, antes que houvesse. Mundo. Por isso, o Pai, ao
colocar ao devolver a Cristo a divindade, colocando a “água”
no Seu corpo humano inanimado, pode em verdade dizer: “Tu és
meu Filho, eu, hoje, te gerei”. Note que o apóstolo Paulo
compreendeu isto, pois afirma que o Pai proferiu esta frase quando
ressuscitou a Cristo dentre os mortos.
Quando o Pai “gerou” novamente Seu Filho, colocando a “água”
a divindade, no corpo humano inanimado de Cristo, esta “água”,
esta divindade, por ser uma própria parte do Pai, que é o doador
da vida, foi capaz de reerguer e ressuscitar aquele corpo humano
inanimado. Por isso, ao mesmo tempo que é correto afirmar que
Deus o Pai ressuscitou a Cristo, pois o gerou novamente após Sua
morte, é correto afirmar que Cristo ressuscitou pelo Seu próprio
poder, à luz do texto de João 10:17, 18 que apresentamos no início
desta seção. Compreendemos então que a própria oração
sacerdotal de Cristo, que encontramos em João capítulo 17 foi
atendida no momento em que o Pai gerou novamente a Cristo, por
ocasião de Sua ressurreição. Jesus havia pedido o seguinte em
sua prece ao Pai:
“e, agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória
que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo.” João
17:5
Jesus,
antes mesmo de Sua morte, pede ao Pai que o glorifique com a glória
que Ele possuía com Seu Pai antes que houvesse mundo. Mas que glória
Cristo possuía com Seu Pai antes que houvesse mundo? O texto de
Provérbios 8 nos responde:
“Antes que os montes fossem firmados, antes de haver
outeiros, eu nasci.
Ainda ele não tinha feito a terra,
nem as amplidões, nem sequer o princípio do pó do mundo.” Provérbios 8:25, 26
Antes
que houvesse mundo, Cristo foi gerado pelo Pai. Assim, quando Ele
pede ao Pai que o glorifique com a glória que possuía antes que
houvesse mundo, está também pedindo ao Pai que o gere novamente.
Como vimos anteriormente, esta oração foi então atendida por
ocasião de Sua ressurreição.
Uma
vez que, por ocasião da ressurreição de Cristo, o Pai o gerou
novamente, mas desta vez dentro de um corpo humano, aquele corpo
humano preparado pelo Pai que lhe servira de habitação durante
todo o período em que ele estivera na Terra, temos que um Deus,
Cristo Jesus, gerado pelo Pai passou a residir em um corpo humano.
Isto explica o texto de Colossenses:
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia
e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os
rudimentos do mundo e não segundo Cristo; porquanto, nele,
habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.”
Colossensses 2:8, 9.
Verificamos
que o texto acima é verdadeiro no seu sentido literal, ou seja,
que em Cristo, passou a habitar, em um corpo humano, toda a
plenitude da Divindade. A humanidade de Cristo ficaria para sempre
retida, conforme atestam as palavras da revelação:
“Ao tomar a nossa natureza, o Salvador ligou-Se à
humanidade por um laço que jamais se partirá. Ele nos
estará ligado por toda a eternidade. "Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o Seu Filho unigênito." João 3:16. Não
O deu somente para levar os nossos pecados e morrer em sacrifício
por nós; deu-O à raça caída. Para nos assegurar Seu imutável
conselho de paz, Deus deu Seu Filho unigênito a fim de que Se
tornasse membro da família humana, retendo para sempre Sua
natureza humana.” O Desejado de Todas as Nações, pág.
25
Uma vez que Sua divindade estaria para sempre habitando em um
corpo humano, é verdadeiro afirmar, como o texto acima o faz, que
Cristo reteria para sempre a Sua natureza humana. Ao mesmo tempo
que o fato de Ele reter Sua natureza humana é uma prova pelas
eras eternas de que Ele é nosso penhor, Sua divindade representa
a certeza do auxílio divino, uma vez que, tendo Ele sido tentado
como nós, pode conceder Seu poder divino a cada um de nós de
acordo com a nossas necessidades, pois Ele as conhece. O texto da
revelação apresentado a seguir representa de forma mais adequada
a natureza e o ministério de Cristo atual:
“Cristo é a escada que Jacó viu, tendo a base na Terra, e
o topo chegando à porta do Céu, ao próprio limiar da glória.
Se aquela escada houvesse deixado de chegar à Terra, por um único
degrau que fosse, teríamos ficado perdidos. Mas Cristo vem ter
conosco onde nos achamos. Tomou nossa natureza e venceu, para que,
revestindo-nos de Sua natureza, nós pudéssemos vencer. Feito
"em semelhança da carne do pecado" (Rom. 8:3), viveu
uma vida isenta de pecado. Agora, por Sua divindade,
firma-Se ao trono do Céu, ao passo que, pela Sua humanidade, Se
liga a nós. Manda-nos que, pela fé nEle, atinjamos à glória
do caráter de Deus. Portanto, devemos ser perfeitos, assim como
"é perfeito vosso Pai que está nos Céus". Mat. 5:48.”
O Desejado de Todas as Nações, págs. 311, 312
Por ser homem e subsistir como homem após Sua ressurreição,
Paulo sobre Ele afirma:
“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem,” I Timóteo 2:5
Por ser Deus mesmo após sua ressurreição, Paulo também faz a
seguinte declaração a Seu respeito:
“Nele,
tudo subsiste.” Colossensses 1:15
Do que estudamos nesta seção, concluímos o seguinte sobre a
natureza de Cristo após a encarnação:
·
Cristo, tendo sido gerado pelo Pai antes da fundação do mundo,
foi novamente gerado pelo Pai por ocasião de Sua ressurreição;
·
Ao ser novamente gerado, sua divindade ficaria para sempre retida
no corpo humano formado por Seu Pai, no qual Ele habitou durante
Seu ministério na Terra;
·
Por estar Sua divindade habitando em Seu corpo humano, temos como
verdadeiro que em Cristo habita corporalmente (em um corpo humano)
toda a plenitude da Divindade;
·
A humanidade de Cristo é a nossa certeza de que nosso Salvador
compadece-se de nós em nossas fraquezas, enquanto Sua Divindade
é a certeza de auxílio divino para vencer o inimigo em todas as
tentações;
·
Cristo é Deus habitando em corpo humano – Emanuel, que quer
dizer: “Deus Conosco”.
Finalizamos o estudo com as palavras inspiradas escritas pelo apóstolo
Paulo, este que, mesmo sabendo muito sobre a natureza e obra de
nosso amado Salvador foi levado a exclamar:
“Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele
que foi manifestado na carne foi justificado em espírito,
contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo,
recebido na glória.” I Timóteo 3:16
Ao nosso bendito Deus e Pai e ao nosso maravilhoso Senhor Jesus
Cristo seja a honra e a glória pelos séculos dos séculos. Amém!
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